“O Céu tem um coração”, dizia o Papa Bento XVI, o da Virgem Maria, que foi levada em corpo e alma para junto do seu Filho para sempre.
Os últimos anos de Maria na terra – os que passaram desde o dia de Pentecostes até a Assunção – ficaram envolvidos numa neblina tão densa que não é possível entrevê-los e menos ainda penetrar neles. A Sagrada Escritura cala, e da Tradição recebemos apenas ecos longínquos e incertos. A sua vida transcorreu calada e laboriosa: como uma fonte oculta que dá aroma às flores e sabor aos frutos. A liturgia, com palavras da Sagrada Escritura a chama de Hortus conclusus, fons signatus (Ct 4, 12): jardim fechado, fonte selada. E também: fonte de água viva, riacho que corre do Líbano (Ct 4,15). Assim como quando estava junto de Jesus, passou despercebida, velando pela Igreja nascente.
É certo que, sem dúvida, viveu junto de São João, já que tinha sido confiada aos seus cuidados filiais. E São João, nos anos seguintes ao Pentecostes, morou habitualmente em Jerusalém: o encontramos ali sempre ao lado de São Pedro. Na época da viagem de São Paulo, na véspera do Concílio de Jerusalém, ao redor do ano 50, o discípulo amado aparece entre as colunas da Igreja. Se Maria ainda estivesse ao seu lado, deveria ter ao redor de 70 anos, como afirmam algumas tradições: a idade que a Sagrada Escritura considera a da plena maturidade humana.
Mas o lugar de Maria estava no Céu. Onde o seu Filho a esperava. E assim, num dia desconhecido para nós, Jesus levou-a consigo à glória celestial. Ao declarar o dogma da Assunção de Maria, em 1950, o Papa Pio XII não quis resolver se Nossa Senhora morreu e imediatamente depois ressuscitou, ou se foi diretamente ao Céu sem passar pelo momento da morte. Atualmente, como nos primeiros séculos, a maioria dos teólogos pensa que ela também morreu, mas – da mesma forma que Cristo – a sua morte não foi um tributo ao pecado – ela era a Imaculada! – mas para ficar mais parecida a Jesus. E assim, desde o século VI, o Oriente começou a celebrar a festa da Dormição de Nossa Senhora: um modo de expressar que foi uma passagem mais parecida ao sonho que à morte. Deixou esta terra – como dizem alguns santos – transportada pelo amor.
Os escritos dos Padres e autores sagrados, principalmente a partir dos séculos IV e V, oferecem detalhes sobre a Dormição e Assunção de Nossa Senhora baseados em alguns relatos do século II. De acordo com estas tradições, quando Maria estava prestes a abandonar este mundo, todos os Apóstolos – exceto São Tiago maior, que já tinha sido martirizado, e Tomé, que estava na Índia – se reuniram em Jerusalém para acompanha-la nos seus últimos momentos. E numa tarde branca e serena fecharam os seus olhos e depositaram o seu corpo num sepulcro. Poucos dias depois, quando São Tomé, que chegou atrasado, insistiu em ver o corpo da Virgem Maria. Encontraram a sepultura vazia, enquanto ouviam cânticos celestiais.
À margem dos elementos de verdade destes relatos, o que é verdade é que a Virgem Maria, por um privilégio especial de Deus Onipotente, não experimentou a corrupção: o seu corpo, glorificado pela Santíssima Trindade, foi unido à alma, e Maria foi assunta ao Céu, onde reina viva e gloriosa, junto de Jesus, para glorificar a Deus e interceder por nós. Foi o que o Papa Pio XII definiu como dogma de fé.
Apesar do silêncio da Escritura, uma passagem do livro do Apocalipse deixa entrever esse final glorioso de Nossa Senhora. Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas (Ap 12,1). O magistério vê nesta cena, não só uma descrição do triunfo final da Igreja, mas também uma afirmação da vitória de Maria (tipo e figura da Igreja) sobre a morte. É como se o discípulo que tinha cuidado de Nossa Senhora até a sua ida ao Céu, tivesse querido deixar constância – de modo delicado e silencioso – deste fato histórico e de salvação que o povo cristão, inspirado pelo Espírito Santo, reconheceu e venerou desde os primeiros séculos.
E nós, animados pela liturgia da Missa aclamamos a Nossa Senhora com estas palavras: gloriosa dicta sunt de te, Maria, quæ hodie exaltata es super choros angelorum: Bem aventurada és Maria, porque hoje foste elevada sob os coros dos anjos e, juntamente com Cristo, alcançou o triunfo eterno.
J.A. Loarte
Fonte: Opus Dei
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Deus te abençoe.